Anos atrás, um imunologista passava a maior parte de seu tempo em uma bancada de laboratório observando através de um microscópio. Hoje, a natureza ampla e complexa do sistema imunológico torna essencial que os imunologistas adotem uma abordagem multidisciplinar para o seu trabalho.
Trabalham em diversas áreas da pesquisa biomédica: na área da saúde, agricultura, monitoramento ambiental e até veterinária. A imunologia tem impacto em muitas áreas da medicina convencional por ser aplicada a várias outras disciplinas científicas. Os cientistas que trabalham com o sistema imunológico transformaram a Imunologia em uma disciplina completa e extensa da medicina.
Teoria
A Imunologia brasileira vêm crescendo nos últimos anos, consequência do aumento de publicações científicas da área, com a maior parte da produção concentrada nos estados de SP, RJ, MG e BA. Os biomédicos imunologistas têm diferentes cargos e seu papel muitas vezes depende do tipo de organização em que trabalham:
→ Empregados por universidades e outras instituições de ensino, trabalham em praticamente todos os departamentos de ciências biomédicas na realização de pesquisas para aumentar a compreensão sobre o sistema imunológico. Também trabalham como professores e incentivam seus alunos a realizarem suas próprias pesquisas.
→ Nas instituições governamentais, com qualificação e especialização adequada, atuam no estudo das doenças (patologia) ou estudo de alergias. Também podem ser cientistas com experiência em imunologia clínica.
→ Os imunologistas empregados na indústria farmacêutica e biotecnológica estudam e desenvolvem novos produtos e terapias médicas. Eles geralmente trabalham com outros pesquisadores para produzirem vacinas e melhorarem as já existentes.
→ Também podem trabalhar nas ciências veterinárias, pesquisando novas formas de melhorar a saúde animal ao prevenir a doença, e fornecer tratamento para aqueles animais que sofrem de infecções e outras condições imunológicas.
Resoluções
Para habilitação em Imunologia, os biomédicos devem realizar cursos de pós-graduação lato sensu ou strictu sensu, reconhecidos pelo MEC.
Assim, para inclusão da habilitação conforme o Conselho Regional de Biomedicina, o profissional biomédico deverá obter sua experiência comprovada das seguintes maneiras: pelos cursos de pós-graduação, na conclusão da graduação (via estágio supervisionado de 500 horas) e nas residências multi-profissionais ou biomédicas, mediante comprovação de tempo de atuação ou residência.
Prática
Em geral, as três categorias mais estudadas na Imunologia são:
▪Imunodeficiência: quando partes do sistema imunológico não respondem adequadamente a uma substância estranha prejudicial ao organismo.
▪ Auto-imunidade: quando o sistema imunológico ataca o próprio tecido que se destina a proteger devido a uma falha do sistema imunológico para reconhecer seus tecidos como sendo próprios.
▪ Hipersensibilidade: quando o sistema imunitário responde inadequadamente (ou de forma intensa) a compostos inofensivos.
Os imunologistas clínicos são responsáveis pelo diagnóstico e discussão das estratégias de tratamento em pacientes com doenças imunológicas. Trabalham com pesquisas especializadas, buscando o desenvolvimento de novas terapias ou técnicas de diagnóstico com base em dados clínicos.
A dificuldade de compreender o mecanismo causador das doenças autoimunes (diabetes tipo 1 e artrite reumatóide, por exemplo) exige que os tratamentos sejam desenvolvidos para gerir tais condições em uma base sintomática.
Os imunologistas também desempenham um papel crítico no desenvolvimento de terapias para prevenir a rejeição de próteses e órgãos em pacientes submetidos a estas cirurgias. Ao compreenderem como um transplante torna-se rejeitado, estes profissionais são capazes de usar medicamentos que suprimem o sistema imunológico do receptor, aumentando as chances de bons resultados.
O desenvolvimento de vacinas é outro campo de atuação dos imunologistas que envolve a prevenção de doenças em escala mundial. As pesquisas nessa área, que envolvem grandes centros nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, têm como principais alvos as doenças infecciosas, HIV/AIDS, malária, doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose, câncer e outras doenças emergentes negligenciadas.
$ Salário $
O salário de um biomédico imunologista é relacionado ao seu campo de atuação e instituição de trabalho. O valor pode aumentar significantemente, ultrapassando R$10.000,00 caso o profissional tenha no mínimo um doutorado e atue como pesquisador em um grande centro.
Opinião profissional
Nesta seção, entrevistamos um imunologista para que você possa conhecer um pouco mais sobre a habilitação.
Átila Granados Afonso de Faria – Biomédico imunologista formado pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP- EPM). É mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Reumatologia (UNIFESP-EPM). Atualmente é assessor científico do laboratório de pesquisa em biologia molecular de Imuno-Reumatologia da UNIFESP; pesquisador pleno do Centro de Informações de Saúde e Álcool (CISA); palestrante, professor e consultor autônomo de educação em saúde.
1 – Por que escolheu a Imunologia?
Átila Granados – Escolhi a biomedicina porque sempre fui fascinado pelo corpo humano, seus mecanismos, seus sistemas e no curso de ciências biomédicas poderia aprender e conhecer mais sobre o assunto. Cheguei a pensar na medicina, mas gostaria mais do que aplicá-la, mas também participar do desenvolvimento e ensino da medicina. Assim, a biomedicina foi o mais adequado para minhas expectativas profissionais.
Escolhi a área de imunologia porque considero esse sistema um dos mais misteriosos e interessantes de todo organismo. É impressionante decifrar como nos defendemos de tantos agentes microbiológicos em todos momentos, todos os dias. É muito fascinante entender como nossas células se comunicam e se organizam em processos carregados de muita inteligência, complexidade e precisão. Fiz minha primeira iniciação científica na área de autoimunidade e fiquei encantado. Não saí mais dessa área de atuação.
2 – Qual é a sua avaliação para o mercado de trabalho nessa área?
Átila Granados – É uma área com importância crescente, tanto na questão de desenvolvimento de vacinas e da nova geração de medicamentos chamados imunobiológicos, como na questão de metodologias modernas que utilizam amplamente produtos da área como anticorpos monoclonais utilizados em citometria de fluxo ou técnicas de microscopia que são amplamente empregadas na pesquisa e também no diagnóstico.
No campo de laboratório de análises clínicas, as técnicas de imunologia ainda são pouco mecanizadas e muito dependentes de operadores qualificados, o que possibilita boas perspectivas no mercado de trabalho.
3 – Na sua opinião, quais as vantagens e desvantagens da Imunologia?
Átila Granados – A imunologia é uma ciência difícil e complexa, exige raciocínio e entendimento e uma possível desvantagem é que o estudo do tema deve ser contínuo. Até podemos dividir em partes didáticas, mas é importante saber que o sistema imunológico é único, trabalha todo coordenado de modo que não é possível ativar uma parte dele sem que as demais sejam relacionadas e ele é também extremamente adaptável aos desafios que é submetido. É preciso ter uma visão ampla de que as coisas acontecem sincronizadas e tudo que acontece acaba por estimular outros eventos e respostas.
É preciso entender os estímulos e quais as respostas especificas que eles desencadeiam. Atuar na imunologia é uma forma de fugir de uma rotina repetitiva, pois o dia-a-dia de um imunologista é sempre bem cheio de surpresas e desafios.
Eu pessoalmente não gosto muito da área de análises clínicas, mas trabalho com laudos investigativos, onde buscamos marcadores de doenças em pacientes com doenças autoimunes raras. Sinto-me feliz e realizado quando vejo que colaboro com o clínico responsável pelo paciente para fechar um diagnóstico ou para indicar melhores recursos para o tratamento. É muito gratificante porque o papel do imunologista laboratorial tem grande relevância clínica, é uma área onde o laboratório faz grande diferença.
4 – Considerações finais.
Átila Granados – O biomédico deve se destacar pelo grande domínio e profundidade que conhece sua área de atuação. Isso que nos faz profissionais relevantes nas áreas de atuação de diagnóstico, pesquisa e também ensino.
Independente da área biomédica que for atuar é importante que se busque uma área que atraia interesse. Que desperte a vontade para o estudo e maior investigação para que possa se tornar mais conhecedor do assunto que for atuar. Na imunologia isso é mais do que recomendado, mas fundamental, pois atuamos com tecnologia de ponta e também desenvolvimento de reagentes biológicos amplamente utilizados em tratamentos, pesquisas e diagnósticos.
Venha qualificar-se conosco.